Ex-presidente ligou para Dirceu, Genoino e Delúbio e já trata caso do mensalão mineiro como revanche.
“Foi uma hipocrisia”. Assim o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva definiu ontem, em conversas reservadas, a condenação dos réus petistas do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. Com o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu nas cordas, a estratégia de Lula para dar o troco nos adversários consiste, agora, na cobrança diária do julgamento do “mensalão tucano” e na divulgação de malfeitos que teriam sido cometidos por integrantes do PSDB.
Lula orientou o candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, a bater nessa tecla no segundo turno da campanha. A ofensiva, porém, não está circunscrita ao território paulistano. Sempre que a disputa municipal for contra o PSDB, candidatos petistas têm ordem para desconstruir os tucanos no campo da ética.
“Se querem fazer o debate da ética, vamos fazer”, disse Lula a candidatos do PT e a prefeitos eleitos do partido, com quem se reuniu ontem. Depois, pediu aos petistas que não fiquem acuados. “Nós não precisamos ter medo desse confronto porque não abafamos investigações. Não vamos apanhar calados nem deixar nada sem resposta.”
O ex-presidente telefonou ontem para Dirceu, para José Genoino, que comandou o PT de 2003 a 2005, e também para Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido. Foi um gesto de solidariedade para confortar o trio condenado pelo Supremo, que sempre lhe foi fiel.
Nos últimos dias, Lula conversou muito com o ex-chefe da Casa Civil. Em várias ocasiões, traçou estratégias com ele e o aconselhou a manter o silêncio até a eleição. Nos bastidores do PT, a relação entre os dois é definida assim: Lula fala, Dirceu obedece.
A ideia da nota de desagravo ao ex-presidente, assinada no mês passado por dirigentes de partidos aliados, é um exemplo dessa convivência. O manifesto que defendeu Lula das críticas da oposição, em meio ao julgamento do Supremo, foi produzido a seu pedido, mas passou pelo crivo de Dirceu.
Dobradinha. A estratégia de pôr o mensalão tucano na roda também foi planejada com o ex-ministro. A denúncia atinge o ex-presidente do PSDB Eduardo Azeredo, que foi governador de Minas Gerais.
A situação que mais preocupa o ex-presidente, entre os réus do PT, é a de Genoino. Embora Lula seja muito ligado a Delúbio – sindicalista que levou à direção do PT para cuidar das finanças -, a percepção dele é que o ex-deputado foi o mais prejudicado. A amigos, disse sentir-se em dívida com Genoino porque ele não queria comandar o PT e só aceitou a missão a seu pedido.
Em conversa com a presidente DILMA Rousseff no dia 1.º, em São Paulo, Lula reiterou que o calendário do julgamento do mensalão tinha sido produzido sob medida para provocar dano eleitoral ao PT. DILMA concordou. Apesar de afirmar que “o povo não quer saber se tem mensalão, se é corintiano, se é santista ou palmeirense”, Lula estava preocupado. Desde domingo, porém, começou a mostrar alívio. O PT teve bom desempenho nas urnas e Haddad, seu afilhado, conseguiu ultrapassar um obstáculo e chegar ao segundo turno.
A passagem de Haddad para a próxima etapa da disputa, ressuscitando o tradicional embate entre o PT e o PSDB, foi como um bálsamo para Lula. Agora, ele quer reunir a tropa petista para tentar virar o jogo, fustigando o mensalão tucano.
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